Do ponto de vista do conteúdo, o modelo estrutural mais simples – e o que eu acho mais eficaz – ainda é aquele usado no jornalismo: o lead, do inglês “guia”, “conexão”.
A ideia do lead é resumir logo nos dois primeiros parágrafos as informações básicas da notícia, mais ou menos nesta ordem:
- Quem
- O quê
- Como
- Onde
- Quando
- Porquê
No texto jornalístico, esses dois primeiros parágrafos correspondem à Apresentação. E já apresentam os elementos do Desenvolvimento e da Conclusão.
Desses seis tópicos, quatro correspondem às causas aristotélicas que, como já vimos antes, explicam a existência de qualquer coisa ou fato:
O quê | Causa material |
Como | Causa formal |
Quem | Causa eficiente |
Porquê | Causa final |
“Onde” e “Quando” não são propriamente causas, mas indicam a situação espacial e temporal do fato descrito.
Onde | Espaço |
Quando | Tempo |
Ou seja: com quatro causas e dois indicadores espaço-temporais, somos capazes de dar conta de qualquer fato ou história, pois essa estrutura se aplica tanto a uma simples frase com a mais complexa das histórias.
Uma vez respondidas essas perguntas, os parágrafos seguintes devem narrar o fato, desenvolvendo os dados do lead, começando pelo que o bom senso indique como de maior interesse ou importância, e deixando para o fim as informações acessórias ou cronologicamente mais distantes.
Uma curiosidade: essa ordenação que vai do maior para o menor em importância é perfeitamente justificada. Claro, a ninguém ocorreria começar um texto pelo que lhe parecesse menos importante ou cronologicamente longínquo. Mas no caso específico dos textos jornalísticos para meios impressos – que à última hora podem precisar ser cortados para a entrada de um anúncio ou mesmo de outra matéria que a supere em importância – é fundamental que esse desenvolvimento se dê nessa ordem para que os textos possam ser cortados com segurança (às vezes sem ser sequer lidos, dada a urgência) “pelo pé”, isto é, debaixo para cima.
Detalhe importantíssimo: essa estrutura pode ser aplicada não só na criação de textos longos, mas também na elaboração das frases. Repare na frase banal: “Eu fui ao cinema ontem”. Ela é um pequeno lead, que responde às perguntas essenciais: o quê, quem, quando, onde.
A própria ideia de ordem direta – sujeito, verbo, predicado, complementos – está implícita nesse modo de ordenar frases e textos. Lembre-se: você escreve para ser lido e compreendido por muitos através dos tempos.